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Título: O teor de vitamina C em peixes da Amazônia: aspectos adaptativos
Autor: Saad, Lenise Socorro Benarrós de Mesquita
Orientador: Val, Vera Maria Fonseca de Almeida e
Palavras-chave: Enzimas de peixes
Peixes da Amazônia
Tambaqui
Data do documento: 2001
Editor: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Programa: Biologia de Água Doce e Pesca Interior - BADPI
Resumo: A habilidade de síntese de vitamina C (ácido L-ascórbico) em vertebrados tem sido reportada em anfíbios, répteis, pássaros e alguns grupos de mamíferos. Esta habilidade é bem estabelecida em peixes pertencentes a grupos primitivos como Dipnoans e Crossopterygians. Assim, o ancestral dos Sarcopterygians, Actinopterygians e outros vertebrados modernos dividiram a informação genética para a síntese da enzima L-gulono-y-lactona oxidase (GLO) que catalisa o último passo da síntese de vitamina C. Conforme a literatura, as propriedades da enzima GLO dos Crossopterygians correspondem às mesmas dos anfíbios, répteis, pássaros e mamíferos. Entretanto, a ocorrência da GLO entre os Actinopterygians modernos (Teleósteos) ainda se encontra sob investigação. O peixe pulmonado sulamericano, Lepidosiren paradoxa, manteve suas características morfológicas primitivas dentre os Teleostomi, mas assemelha-se em diversas características genéticas aos vertebrados terrestres (anfíbios e répteis). O presente trabalho divide-se em três capítulos. No primeiro foi analisado o teor de ácido ascórbico (AA) nos tecidos de 17 espécies de peixes da Amazônia, na tentativa de correlacionar os resultados aos diferentes hábitos alimentares e reavaliar a proposta evolutiva para as espécies com relação à capacidade de síntese e armazenamento de ácido L-ascórbico. Das espécies analisadas o maior teor de AA foi encontrado nas espécies respiradoras aéreas: Lepidosiren paradoxa (pirambóia), Electrophorus electricus (poraquê), Arapaima gigas (pirarucu) e Hoplerythrinus unitaeniatus (jeju) e nas espécies de respiração aquática Colossoma macropomum (tambaqui), Osteoglossum bibirrhosum (aruanã), Cichla monoculus (tucunaré), Myleus sp (pacu) e Serrassalmus rhombeus (piranha), mostrando que a presença de AA nos tecidos dos peixes não está relacionada ao padrão de respiração. Nenhum conteúdo foi encontrado nas espécies Synbranchus marmoratus (muçum), Liposarcus pardalis (acari-bodó), Hoplosternum littorale (tamoatá), Satanoperca jurupari (cará, Prochilodus nigricans (curimatã), Hypophthalmus edentatus (mapará), Pimelodus blochii (mandi) e Triportheus albus (sardinha) as quais apresentam diferentes padrões de respiração. Os resultados foram comparados com padrões de ácido L-ascórbico e com diferentes substâncias de origem vegetal e animal: polpa de frutas (abacaxi, tarumã, araçá-boi e mucuba), rim de tartaruga (réptil) e fígado de rato (mamífero). Algumas amostras de C, macropomum (tambaqui) apresentaram teores mais altos de AA, o que nos levou a expandir as análises com essa espécie. Os resultados sugerem que a escala evolutiva e a disponibilidade de alimento podem influenciar nos níveis de ácido L-ascórbico nos tecidos e que o padrão de respiração não apresenta influência nos teores de vitamina C em peixes da Amazônia. O segundo capítulo verifica a interrelação entre o conteúdo estomacal e os hábitos alimentares da espécie tambaqui, uma vez que a espécie tem alimentação omnívora. Como observou-se durante o decorrer do trabalho que os níveis de AA nas amostras poderiam estar sofrendo a influência da disponibilidade alimentos, decidiu-se por uma análise sazonal. Além desse fato, a espécie está, muitas vezes, exposta a períodos de estresse ambiental e, como conseqüência, pode haver aumento da perfusão de oxigênio nos tecidos, gerando espécies reativas de oxigênio (radicais livres) que, na hipótese de confirmação da produção do mesmo, podem ser combatidas pelo AA, uma das principais substâncias antioxidantes disponíveis na natureza. O terceiro capítulo descreve as propriedades da enzima GLO presente no fígado e no rim do peixe pulmonado sulamericano, comparando-as com a GLO homóloga que ocorre em outros grupos modernos. Esta é a primeira descrição da presença de GLO em dois órgão de uma mesma espécie de vertebrado, indicando que a informação para síntese de AA pode ter ocorrido antes da diferenciação para o meio terrestre entre anfíbios e répteis. Esta espécie primitiva de peixe apresenta mais uma característica que sugere a existência de ancestral comum entre essa espécie e outros vertebrados terrestres, como os anfíbios. Além disso, a informação para essa enzima pode ser devida à presença de mais de um loco gênico. Esses resultados conjuntamente sugerem que as espécies da bacia amazônica não podem biossintetizar ácido ascórbico e, consequentemente, a enzima GLO não é detectada, com exceção de Lepidosiren paradoxa que tem atividade enzimática em dois órgãos, mostrando que a informação para a síntese está presente no ancestral comum dos peixes primitivos e vertebrados modernos.
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