Use este identificador para citar ou linkar para este item: https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/38110
Título: História natural da ictiofauna de corredeiras do rio Xingu, na região de Altamira, Pará
Autor: Zuanon, Jansen Alfredo Sampaio
Orientador: Sazina, Ivan
Data do documento: 1999
Editor: Universidade Estadual de Campinas
Programa: Ciências de Florestas Tropicais - CFT
Resumo: Peixes constituem o maior grupo de vertebrados atuais, com cerca de 25.000 espécies (Liem 1994; Berra 1997). Na Amazônia, a grande riqueza de espécies e a vasta área a ser estudada têm historicamente dificultado a aquisição de um conhecimento adequado da ictiofauna (Bohlke et al. 1978). Vinte anos após as constatações de Bohlke e colaboradores, a situação continua preocupante (Menezes 1996), e muito ainda resta a ser feito em áreas básicas da ictiologia neotropical de água doce, como taxonomia e sistemática, e história natural. Até aproximadamente o início da década de 60, os estudos sobre a ictiofauna amazônica abordaram principalmente aspectos taxonômicos e sistemáticos, com poucos trabalhos publicados sobre ecologia e história natural (Santos et al. 1991, e referências incluídas). Após esse período, alguns estudos ecológicos importantes foram publicados, enfocando comunidades de peixes ou comparando conjuntos de espécies de regiões diferentes (Lowe McConnell 1964, 1975; Marlier 1967, 1968; Knoppel 1970; Roberts 1972). Mais recentemente, diversos estudos têm enfocado aspectos da ecologia de comunidades, através de técnicas sofisticadas de tratamento estatístico das informações (Ibarra & Stewart 1989; Galacatos et al. 1996; Jepsen 1997; Ponton & Copp 1997; Tejerina-Garro et al. 1998). Alguns desses estudos resultaram em descobertas importantes a respeito de possíveis fatores que influenciam a estrutura de comunidades em ambientes tropicais, incluindo fatores físicos (morfologia de lagos e transparência) e bióticos (piscivoria) ( Rodríguez & Lewis 1997). Entretanto, apesar dos avanços no entendimento da estrutura geral de comunidades de peixes de água doce, pouco se sabe sobre história natural e ecologia da maioria das espécies. Talvez o trabalho recente mais importante sobre história natural de peixes amazônicos seja o de Goulding (1980), descrevendo as relações entre os peixes e a floresta. Reconhecido como um estudo fundamental sobre a ecologia de peixes amazônicos, esse trabalho concentrou-se em espécies exploradas na pesca comercial e de subsistência, tendo sido desenvolvido em áreas de várzea, melhor conhecidas e historicamente exploradas desde o início da colonização. A maior parte da ictiofauna amazônica permanece mal conhecida, com poucos registros publicados além da descrição original. Tal situação torna-se ainda mais preocupante frente às pressões ambientais atuais, movidas por um ritmo acelerado de devastação de áreas florestais e alterações generalizadas em sistemas aquáticos, na forma de poluição, assoreamento, e barramentos. Estudos sobre história natural de peixes de água doce com uso de técnicas de mergulho são escassos em ambientes sul-americanos, embora trabalhos desse tipo venham sendo realizados em outras regiões há mais de 35 anos (e.g., Keenleyside 1962). No Brasil, a maior parte dos estudos naturalísticos desse tipo têm se concentrado em riachos de pequeno porte (e.g., Sabino & Castro 1990; Buck & Sazima 1995; Sabino & Zuanon 1998). Desses, apenas um foi desenvolvido em áreas de corredeiras (Casatti & Castro 1998). Velocidade da correnteza é um dos fatores fundamentais na organização de comunidades de peixes de água doce (Gorman & Karr 1978). Nesse sentido, as áreas de corredeiras representam uma condição extrema dentro de um sistema límnico. Desde o início do século, alguns autores têm discutido os fatores limitantes à ocupação desses ambientes, e as respostas adaptativas apresentadas pela fauna de rios e riachos torrenciais (e.g.; Hora 1930). Algumas áreas de corredeiras na África foram estudadas por Roberts & Stewart (1976), revelando a existência de um conjunto diversificado de espécies de peixes fortemente reofílicos, muitos dos quais até então desconhecidos. Entretanto, devido a dificuldades de coleta e de observação (Helfman 1983), as áreas de corredeiras permanecem como um dos ambientes aquáticos menos conhecidos (Bohlke et al. 1978). Sendo ambientes com características extremas e diferentes da maior parte do curso dos rios dos quais fazem parte, os trechos de corredeiras abrigam espécies de peixes com características ecológicas peculiares, representando especializações morfológicas e comportamentais relacionadas à vida em ambientes correntosos e turbulentos. Três tipos de características podem estar envolvidas no processo de ocupação das corredeiras, em muitos casos atuando integradamente: forma do corpo; presença de estruturas especializadas para fixação ao substrato; e estratégias comportamentais peculiares, relacionadas à manutenção da posição e forrageamento em locais de forte correnteza. No presente trabalho, apresento os resultados de um estudo sobre a ictiofauna de corredeiras do rio Xingu, realizado na região do município de Altamira, Pará. Utilizei técnicas de mergulho livre ("snorkeling"; cf. Sazima 1986) para a obter informações sobre os peixes nas corredeiras, incluindo: constância de ocorrência; distribuição espacial; táticas de forrageamento; e estratégias de manutenção da posição espacial. Em laboratório, analisei a dieta de uma amostra das espécies, a partir de exemplares preservados. Além disso, realizei estudos buscando relacionar, para algumas espécies selecionadas, as características morfológicas com os respectivos padrões de uso dos recursos no ambiente, através de uma abordagem ecomorfológica (Watson & Balon 1984; Motta et al.1995, e referências incluídas). Devido ao grande número de espécies registradas nas corredeiras (cerca de uma centena), o tratamento individualizado da história natural de cada uma delas tornou-se impraticável. Por outro lado, a alternativa de tratar em detalhe apenas as principais espécies, desprezando muitas informações inéditas, também seria frustrante. Optei então por uma estratégia intermediária, apresentando um capítulo inicial com considerações gerais sobre a ictiofauna de corredeiras do rio Xingu (Capítulo 1), seguido de três capítulos enfocando grupos taxonômicos específicos, na forma de estudos de caso. Analisei três grupos de espécies: um grupo composto por seis espécies de Teleocichla (Cichlidae), que constituem uma parte importante da fauna epibêntica das corredeiras (Capítulo 2); outro grupo formado por 16 espécies de aracus ou piaus (Anostomidae), representantes da fauna pelágica; (Capítulo 3); e um terceiro conjunto de 20 espécies de acaris ou cascudos (Loricariidae), de hábitos noturnos e criptobióticos, que constituem a maior parte da ictiofauna bentônica das corredeiras (Capítulo 4). A opção de análise por grupos taxonômicos justifica-se como forma de evitar a influência de um forte componente filogenético na interpretação dos resultados (q.v., Casatti & Castro 1998), caso todas as espécies fossem analisadas em conjunto (Douglas & Matthews 1992; Motta & Kotrschal 1992). Após esses quatro capítulos, apresento uma discussão geral sobre a ictiofauna de corredeiras, tratando das principais especializações morfológicas e comportamentais observadas; as possíveis vantagens da ocupação das áreas de corredeiras pelos peixes; a adequação e eficiência da metodologia ecomorfológica para a elucidação de aspectos da história natural e ecologia dos peixes de corredeiras; e as principais ameaças ao equilíbrio ecológico das comunidades ícticas das áreas de corredeiras do rio Xingu e da Amazônia (Capítulo 5).
Aparece nas coleções:Teses E Dissertações Defendidas Em Outras Instituições

Arquivos associados a este item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
Jansen Alfredo (2).pdf11,94 MBAdobe PDFVisualizar/Abrir


Este item está licenciada sob uma Licença Creative Commons Creative Commons