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Título: Recuperação de agroecossistemas de várzea e paleovárzea amazônica no contexto das mudanças climáticas na região do médio solimões (Amazonas, Brasil)
Autor: Ávila, Julia Vieira da Cunha
Orientador: Clement, Charles Roland
Coorientador: Steward, Angela May
Ticktin, Tamara
Palavras-chave: Agroecossistemas
Mudanças Climáticas
Data do documento: 10-Abr-2023
Programa: Botânica
Abstract: Agrobiodiversity in Amazonia is the result of the use and management of plant populations by current and pre-Columbian peoples, being composed of domesticated crops to different degrees and domesticated landscapes, such as agroecosystems, managed forests and anthropic soils. Currently, the agroecosystems of traditional producers on the middle Solimões River (Amazonia) are being heavily impacted by extreme events related to climate change, such as recurrent large floods. The general objective of this thesis is to analyze the impacts and recovery of ribeirinhos agroecosystems in Amazonian floodplain ecosystems after one of the most extreme floods in the middle Solimões River (2015). Our specific objectives are: a) to assess how crop agrobiodiversity was impacted and recovered after the extreme flood (chapter 1); b) compare local adaptive landscape domestication strategies to cope with extreme and normal-year floods (chapter 2); and c) examine manioc storage strategies and the distribution of this knowledge among residents of floodplain ecosystems (chapter 3). For this, between 2017 and 2019 we carried out semi-structured interviews, free-lists, guided tours, participant observation, seasonal calendars and timelines. We analyzed the alpha and beta agrobiodiversity of ethnospecies and manioc ethnovarieties managed by ribeirinho communities before, immediately after and two years after the 2015 extreme flood, comparing the impacts and agrobiodiversity in the low várzea, high várzea and paleovárzea. We identified that local communities have detailed knowledge about normal climatic patterns and they recognize that climate unpredictability makes it difficult to effectively realize the activities necessary for their survival and food sovereignty, where their local knowledge is no longer reliable. We point out that extreme climatic events have consequences for their cropping systems and associated agrobiodiversity, varying according to the degree of exposure of different environments to extreme climatic events. We verified that low várzea agroecosystems are more affected by the extreme floods and require more time for their reconstitution, whereas even after two years of management, the agroecosystems do not present similar alpha agrobiodiversity in comparison with was observed before the extreme flood. In addition, the agrobiodiversity between ecosystems (beta agrobiodiversity), which was similar before the extreme flood, was not recovered even after two years of ribeirinho management. In the case of the agrobiodiversity of manioc ethnovarieties, greater impacts were also observed in the lower várzea immediately after the flood. During extreme climatic events, local communities intensify adaptation strategies such as avoiding stress on the root systems of fruit trees, prioritizing plants that survive to floods and cultivating in less affected landscapes. Adaptation practices tend to occur more frequently in várzeas, and two adaptation practices were specific to várzeas. In addition, residents mention four techniques for storing fresh manioc; two also mentioned in archaeological or ethnographic studies (burial and basketing) and two not previously mentioned (bagging and kanaká). In the paleovárzea, where manioc production is more important as a source of income, residents have more knowledge of manioc storage techniques; however, this knowledge also persists in areas where manioc is less important for income generation. In the coming decades, the impacts of extreme climatic events on local communities are expected to increase, especially in environments more exposed to flooding. Residents suggest documenting and sharing adaptation strategies as a way to increase their resilience.
Resumo: A agrobiodiversidade na Amazônia é resultado do uso e manejo de populações de plantas por povos atuais e pré-colombianos, sendo composta de cultivos domesticados em diferentes graus e de paisagens domesticadas (como agroecossistemas, florestas manejadas, solos antrópicos). Atualmente, os agroecossistemas de produtores tradicionais do médio rio Solimões (Amazonas) vêm sendo fortemente impactados por eventos extremos relacionados às mudanças climáticas, como as grandes enchentes recorrentes. O objetivo geral desta tese é analisar os impactos e a recomposição dos agroecossistemas de ribeirinhos em ecossistemas de várzea amazônica após uma inundação extrema, ocorrida no médio rio Solimões (2015). Nossos objetivos específicos são: a) avaliar quanto a agrobiodiversidade foi impactada e recuperada após uma das maiores inundações extremas já registradas na região (capítulo 1); b) comparar as estratégias adaptativas locais de domesticação da paisagem no contexto das inundações extremas em relação aos anos de inundações normais (capítulo 2); e c) examinar estratégias para o armazenamento da mandioca e a distribuição desse conhecimento entre moradores dos ecossistemas de várzea (capítulo 3). Para isso, entre 2017 e 2019 realizamos entrevistas semiestruturadas, listas-livres, turnês-guiadas, observação participante, construção de calendários sazonais e linhas do tempo. Analisamos a agrobiodiversidade alpha e beta das etnoespécies e etnovariedades de mandioca manejadas pelos ribeirinhos em três momentos temporais (antes, imediatamente após e dois anos após a enchente extrema de 2015), comparando os impactos e a recomposição dos agroecossistemas na várzea baixa, várzea alta e na paleovárzea. Identificamos que as comunidades locais possuem conhecimento detalhado dos padrões climáticos normais e reconhecem que a imprevisibilidade climática dificulta o planejamento efetivo das atividades necessárias à sua sobrevivência e alimentação, onde seu conhecimento local não é mais confiável. Apontamos que eventos climáticos extremos têm consequências para seus sistemas de cultivo e agrobiodiversidade associada, variando de acordo com o grau de exposição de diferentes ambientes a eventos extremos. Verificamos que os agroecossistemas de várzea baixa são mais afetados pelas enchentes e requerem maior tempo para sua reconstituição, onde mesmo após dois anos de manejo, os agroecossistemas não apresentam a diversidade alpha similar ao observado antes da enchente extrema. Além disso, a diversidade das etnoespécies entre os ecossistemas (diversidade beta), que antes da enchente extrema era similar, não foi retomada após dois anos de manejo pelos ribeirinhos. No caso da diversidade das etnovariedades de mandioca, impactos maiores também foram observados na várzea baixa imediatamente após a enchente. Durante eventos climáticos extremos os ribeirinhos intensificam estratégias de adaptação como: evitar o estresse nos sistemas radiculares das árvores frutíferas, priorizar o cultivo de plantas que sobrevivem às inundações e cultivar em paisagens menos afetadas. Práticas de adaptação tendem a ocorrer com mais frequência em várzeas, e duas práticas de adaptação foram específicas para várzeas. Além disso, moradores mencionam quatro técnicas de armazenamento de mandioca fresca; dois também citados em estudos arqueológicos ou etnográficos (enterramento e empaneiramento) e dois não citados anteriormente na região (ensacamento e kanaká). Na paleovárzea, onde a produção de mandioca é mais importante como fonte de renda, os moradores possuem mais conhecimento das técnicas de armazenamento da mandioca, porém, esse conhecimento também persiste em áreas onde a mandioca tem menor importância para a geração de renda. Nas próximas décadas, espera-se que os impactos de eventos climáticos extremos nas comunidades locais aumentem, principalmente em ambientes mais expostos a inundações. Moradores locais sugerem a documentação e o compartilhamento de estratégias de adaptação como forma de aumentar sua resiliência.
Aparece nas coleções:Doutorado - BOT

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