Sons, cidades e sauins: efeitos do ambiente acústico no comportamento de comunicação do Sauim-de-Coleira (Saguinus bicolor)
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Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Resumo
Sons produzidos por espécies animais frequentemente são moldados pelo ambiente
físico e acústico em que estão inseridos. Tanto sons de origem biológica quanto antrópicas
podem induzir modificações em sinais acústicos de determinadas espécies. O sauim-decoleira
(Saguinus bicolor) é um primata criticamente ameaçado, com uma pequena
distribuição geográfica. Ao norte de sua distribuição ele interage com o congênere sauim-demãos-
douradas (Saguinus midas), enquanto o centro de sua distribuição é localizado em parte
na cidade de Manaus. Nesta tese foi investigado como a paisagem acústica afeta o
comportamento de comunicação do sauim-de-coleira. Ao analisar os chamados (sons
territoriais) de 15 grupos de S. midas e S. bicolor identificou-se que populações de sauim-decoleira
que estão em áreas de alopatria, não apresentam diferenças significativas em seus sons
se comparados com sons de populações de áreas de simpatria com S. midas. Por outro lado, S.
midas em áreas de simpatria e alopatria apresentaram um deslocamento dos caracteres
acústicos no sentido de tornar os sons mais similares aos sons de sauins-de-coleira. A
convergência observada pode ser atribuída ao comportamento em que o som é emitido, uma
vez que sons parecidos seriam mais efetivos em informar o contexto de territorialidade em
áreas de simpatria. O deslocamento observado ocorreu apenas em áreas de mata primária e
não em áreas de mata secundária, o que pode estar relacionado à diferença de forças seletivas
para propagação do som nesses ambientes. Nesta tese também foi testado o efeito de ruído da
cidade de Manaus no comportamento de comunicação de nove grupos de sauins-de-coleira.
De forma geral, os sauins não aumentaram ou diminuíram o número de vocalizações de
chamado em resposta ao ruído, porém, a ocorrência (1= ocorreu; 0= não ocorreu) dessas
vocalizações aumentou. É possível que diante do ruído intenso algum indivíduo do grupo
emita apenas uma vocalização e coordene o grupo para um local mais quieto, mas não
necessariamente vocaliza mais vezes para isso. O número de vocalizações emitidas foi mais
influenciado por aspectos sociais, como o tamanho dos grupos e a distância da borda de seus
territórios (um proxy para interação com grupos vizinhos). Além disso, não houve mudança
no padrão temporal de emissão de vocalizações ao longo do dia em resposta ao ruído, porém
em uma escala mais fina, como o das vocalizações de chamado, encontramos que os
chamados tem o padrão de repetição de sílabas (número de sílabas/ duração) alterado sendo
que os chamados ficam mais lentos. Quanto ao restante dos parâmetros acústicos (de duração,
frequência mais baixa e frequência com maior energia), não houve relação significativa com o
ruído. Outra estratégia provavelmente utilizada para contornar o ruído da cidade é que os
sauins-de-coleira fazem mais marcações de cheiro em ambientes ruidosos. Apesar disso, eles
não reduzem os comportamentos de acústicos, portanto, não há uma troca de modalidades de
comunicação, mas provavelmente uma complementação da informação contida em sinais de
diferentes canais sensoriais. Por fim, este estudo aponta que sons de origem antrópica (ruído),
mas não a interação com sauins-de-mãos-douradas, afetam os padrões de comunicação do
sauim-de-coleira.
Abstract
Sounds produced by animal species are often shaped by physical and acoustic environments
in which they occur. Both biological and anthropogenic sounds can induce changes in
acoustic signals of certain species. The pied tamarin (Saguinus bicolor) is a Critically
Endangered primate with a narrow geographic distribution. To the north of its distribution, the
pied tamarin interacts with the congeneric species red-handed tamarin (Saguinus midas). In
contrast, the core of its distribution lies partly within the city of Manaus. This thesis
investigated how the acoustic environment affects the communication behaviour of the pied
tamarin. Analysis of the long calls (territorial sounds) of 15 groups of S. midas and S. bicolor
reveled that the pied tamarin populations in sympatric areas did not show significant
differences in vocalization compared to those that are in alloparty. On the other hand, sound
character displacement was evident when comparing vocalizations of S. midas from sympatry
and allopatry. The shifts involved had the effect of making the emitted sounds more similar to
those of pied tamarins. The observed convergence can be attributed to the behaviour
associated with the emission of the sound is, since similar sounds would be more effective in
conveying information relating to between-species vocal territorial boundary marking in
sympatric areas. Furthermore, the observed displacement occurred only in areas of primary,
and not in secondary forests, which may be related to the difference in selective forces for
sound propagation. This thesis also reports the effects of Manaus city noise on the
communication behaviour of nine groups of pied tamarins. Pied tamarins did not increase or
decrease the abundance of long calls in response to noise. However, the occurrence (1=
occurred; 0= did not occur) of these vocalizations increased. It is possible that, when faced
with intense noise, some of the group individuals emit a single long call to coordinate the
group to move to quieter areas but not necessarily vocalise more often to do so. The
abundance of emitted vocalisations was more influenced by social aspects, such as group size
and distance from their territorial boundaries (a proxy for the interaction with neighbouring
groups). In addition, there was no shift in the temporal pattern of vocalization emissions
across the day in response to noise. However, at a finer scale, that of a long call, we found that
the syllable repetition rate (number of syllables/duration) of long calls altered with calls being
slower in noisier areas. As for the other acoustic parameters (duration, lower frequency, and
frequency with higher energy), there were no significant relation with noise. Another strategy
used probably to circumvent city noise is that pied tamarins scent mark more often in noisy
environments. Despite this, they do not reduce their vocal behaviour; therefore, there is no
evidence for multimodal communication shift, but probably complementation of the
information contained in signals from different sensory channels. In summary, this shows that
sounds of anthropic origin (noise), but not interaction with the red-handed tamarin, affect pied
tamarin communication patterns.
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